GIROTO, Cláudia Regina Mosca (2006)
A Parceria Entre o Professor e o Fonoaudiólogo: Um Caminho Possível Para a Atuação Fonoaudiológica Com a Linguagem Escrita
São Paulo, 2006. Tese de Doutorado (Pós-graduação em Educação)
Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho.
A Parceria Entre o Professor e o Fonoaudiólogo: Um Caminho Possível Para a Atuação Fonoaudiológica Com a Linguagem Escrita.
Nome do Orientador: Sadao Omote
Área: Ciências Humanas: Educação
Assunto: Em Análise
Referencial Teórico: Em Análise
Natureza do Texto: Em Análise
Resumo: Numa abordagem constitutiva da linguagem, as dificuldades relativas aos aspectos notacionais são interpretadas como inerentes ao processo formal de aquisição da escrita e como indícios da elaboração de soluções para tais dificuldades. Portanto, não são consideradas como manifestações patológicas de distúrbios de aprendizagem. Tal abordagem pressupõe, numa época em que se preconiza uma escola acolhedora à diversidade de alunos e às singularidades de cada indivíduo, que tanto o professor quanto o fonoaudiólogo devem compreender a sua atuação com a escrita de modo mais cuidadoso, a fim de não patologizarem tais aspectos, a ponto de contribuírem para a institucionalização invisível e a evasão escolar. Com base em tais idéias, o presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de problematizar a compreensão de 21 professores de 1ª e 2ª séries, do ensino fundamental, a respeito dos aspectos notacionais da escrita, presentes nos textos dos seus alunos, sob o efeito da colaboração fonoaudiológica. A metodologia compreendeu, quanto a essa colaboração, a realização de atividades, em parceria com os professores, voltadas à reflexão e à modificação de práticas, cotidianamente utilizadas em sala de aula, relativas à forma como compreendem e atuam com a linguagem escrita. Tais atividades incluíram a realização de encontros teórico-reflexivos, a análise conjunta de textos e, ainda, a criação de um grupo de apoio aos alunos considerados, por seus professores, como sendo aqueles com distúrbios de aprendizagem. A fim de viabilizar tais atividades, recorreu-se à realização de entrevistas em grupo e individuais e à utilização de dois questionários. Também foi realizada a observação, em sala de aula, da conduta dos professores frente a tais aspectos, durante atividades de produção de textos. Com essa mesma finalidade, os professores corrigiram três textos, previamente selecionados. A análise dos dados envolveu a elaboração de categorias e de eixos de análise que emergiram a partir dos resultados obtidos. Tais dados revelaram que os professores apresentaram uma concepção reducionista acerca da linguagem escrita, interpretada como um sistema de representação de unidades sonoras e centrada na ênfase às correspondências grafo-fonológicas e na valorização dos aspectos notacionais, em detrimento dos aspectos discursivos da escrita. Essa concepção subsidiou a medicalização da aprendizagem, por meio de práticas patologizadoras, utilizadas pelos professores, que desconsideraram as singularidades presentes na relação estabelecida por seus alunos com a linguagem escrita. Os professores também apresentaram uma concepção reducionista acerca da atuação fonoaudiológica com essa modalidade de linguagem, ao demonstrarem expectativas equivocadas de que o fonoaudiólogo continue a legitimar os rótulos e julgamentos conferidos, por eles, aos alunos que apresentam dificuldades ao se apropriarem da escrita. Porém, a parceria entre o professor e o fonoaudiólogo foi evidenciada como um caminho viável para a atuação desses profissionais com a linguagem escrita. A partir de tal parceria, espera-se que estes profissionais, ao compreenderem a natureza lingüística das dificuldades apresentadas pelos alunos, promovam a aprendizagem e contribuam para a edificação da escola inclusiva, em vez de perpetuarem um modelo de atuação que reforça a exclusão social daqueles que não atendem às expectativas de seus professores e da escola.