GIOVANI, Fabiane (2010)
A Ontogênese dos Gêneros Discursivos Escritos na Alfabetização
São Paulo, 2010. Tese de Doutorado (Pós-graduação em Linguística e Letras)
Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho.
A Ontogênese dos Gêneros Discursivos Escritos na Alfabetização.
Nome do Orientador: Luiz Carlos Cagliari
Área: Linguística, Letras e Artes: Linguística e Letras
Assunto: Em Análise
Referencial Teórico: Em Análise
Natureza do Texto: Em Análise
Resumo: O presente estudo tem por objetivo conhecer o percurso ontogenético dos gêneros discursivos escritos pelo qual passam as crianças durante o processo de apropriação da escrita e refletir sobre eles. Para isso, foram acompanhadas direta e indiretamente três salas de alfabetização. Em uma delas, foi realizado um trabalho coletivo entre a professora e a pesquisadora durante todo o ano letivo de 2007. As duas outras salas passaram a receber a visita da pesquisadora, uma vez ao mês, a partir do segundo semestre do referido ano. Nas três salas visitadas mensalmente, foram produzidas oficinas, cujo produto resultou na produção de textos escritos pelas crianças. Partindo do princípio de que as micro-histórias podem ser peças importantes para desvendar e descobrir elementos importantes sobre a macro-história, escolhemos como metodologia de pesquisa o paradigma indiciário para, através de indícios singulares, nos dar pistas sobre a apropriação do gênero discursivo escrito por estas crianças. Por não querer perder de vista a história do sujeito autor nesse processo, limitamos a análise à produção escrita de três crianças, cada uma sendo representante de sua sala de alfabetização. Através dos indícios deixados pelos sujeitos, pudemos perceber que cada criança priorizou um elemento da engrenagem gênero discursivo, e essa ênfase se deu graças ao tipo de vivência e diálogo que foi possível a cada uma delas estabelecer com os gêneros do discurso. Assistimos o processo de V. priorizando, em suas escritas, o elemento tema, numa tentativa alucinada de reproduzir o que foi visto e devolver a palavra que a escola, representada por sua professora, queria ouvir. Observamos o processo de J. que priorizava a estrutura composicional, uma vez que esta era a forma priorizada pelo trabalho com alfabetização de sua professora. Por fim, acompanhamos F. enfatizando o estilo em suas produções escritas, o que nos evidenciou que a autonomia de caminhar no interior dos gêneros com os quais travou diálogo possibilitou esse distanciamento e, portanto, essa formação ‘estética’. São três sujeitos representante (micro) de tantos outros que faziam parte de suas respectivas salas (macro). Através dessa parte visível aos nossos olhos e de outra que não nos é dada, o que denominamos de ‘sombreado dos sujeitos’, chegamos à conclusão de que a apropriação dos gêneros é única, irrepetível e singular, sendo o meio externo com o papel do ‘outro’, principalmente do professor, o responsável pelo resultado dessa apropriação. Pudemos concluir também que sujeitos únicos, irrepetíveis e singulares produzem textos intergenéricos o que correspondeu as nossas expectativas, ao partir da teorização de Bakhtin de que gênero é vida e, portanto, não é possível purificá-lo ou colocá-lo em moldes previamente estipulados. A partir disso, elaboramos, então, a definição do que seria um sujeito ético e um sujeito estético. Enquanto aquele se mostra pura e simplesmente como possuidor de valores, este é aquele que não só tem valores, mas já apresenta um certo acabamento na medida em que espera pela resposta do seu interlocutor. Sujeitos éticos e estéticos não se formam por si só. Novamente a importância de um ‘outro’ se faz presente e, consequentemente, traz a tona à relevância das interações como garantia de qualidade da formação dos sujeitos, que aqui foi representada por crianças alfabetizandas, mas que pode estender-se a todos os níveis do processo ensino/aprendizagem.