SILVA, Mariane Éllen da (2016)
Crianças, Docências, Leitura e Escrita: Um Estudo Sobre o Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa - Pnaic
Minas Gerais, 2016. Dissertação de Mestrado Acadêmico (Pós-graduação em Educação)
Universidade Federal de Uberlândia.
Crianças, Docências, Leitura e Escrita: Um Estudo Sobre o Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa - Pnaic.
Nome do Orientador: Myrtes Dias da Cunha
Área: Ciências Humanas: Educação
Assunto: Em Análise
Referencial Teórico: Em Análise
Natureza do Texto: Em Análise
Resumo: Esta pesquisa teve como objeto de estudo os cadernos de alfabetização em língua portuguesa, do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), política pública do governo federal, voltada para a formação de professores alfabetizadores (1.º ao 3.º ano), que intenta assegurar que todas as crianças brasileiras estejam alfabetizadas até os 8 anos de idade; ao final do 3.º ano do ensino fundamental. O objetivo central/geral da pesquisa foi analisar como o PNAIC, por meio dos cadernos de alfabetização em língua portuguesa, projeta a criança e seu aprendizado da leitura e da escrita no 1.º ano do ensino fundamental. A escolha, para análise, deste ano de escolaridade articulou-se a nosso interesse em conhecer melhor o significado do ensino-aprendizado das crianças, a partir da ampliação do ensino fundamental para nove anos e a antecipação do início do ensino fundamental para crianças com 6 anos de idade. Buscando compreender significados e sentidos do material da formação continuada de professores do PNAIC, a presente investigação estruturou-se em uma Pesquisa Documental, caracterizada pelos procedimentos: leitura de todo o material produzido no âmbito do PNAIC (fontes primárias), perfazendo 24 cadernos, com ênfase na análise dos 8 cadernos destinados à formação dos docentes do 1.º ano do ensino fundamental, especialmente das unidades 1, 2 e 4, devido ao objetivo da pesquisa, e também de trabalhos acadêmicos que, direta ou indiretamente, discutem aspectos do PNAIC (fontes secundárias). De acordo com a análise empreendida, constatamos a existência de um discurso predominante na orientação das práticas docentes e na regulação dos tempos de aprendizagem das crianças, sustentado no direito de aprender das crianças, definindo o que, como e quando as crianças devem aprender, e por aí naturaliza e padroniza o que, como e quando o professor deve ensinar. Nesta organização, a aprendizagem da linguagem apresentou-se fragmentada e normativa, configurando-se nos princípios de introduzir, aprofundar e consolidar conhecimentos, habilidades e atitudes em cada ano de escolaridade. Desta forma, o planejamento do processo de alfabetização e ensino-aprendizagem da língua portuguesa foi voltado exclusivamente para os eixos constituintes da língua (leitura; produção de textos escritos; oralidade; análise linguística: discursividade, textualidade e normatividade; e análise linguística: apropriação do sistema de escrita alfabética), excluindose, assim, as características próprias das crianças de seis anos na organização do espaço-tempo escolar, as manifestações de outras linguagens e sua incorporação nas rotinas escolares, contribuindo para uma desvalorização do brincar e um distanciamento das necessidades infantis. Na proposta do PNAIC para o 1.º ano do ensino fundamental, não se incentivou o trabalho docente com outras linguagens, e o foco sempre esteve no ensino da língua portuguesa. Salientamos que o brincar, principal atividade e direito das crianças, está sendo descaracterizado devido às exigências do ensino fundamental. Conjecturamos que o processo de ensinar a ler e escrever para as crianças de seis anos, atravessado por um tempo certo de aprender e por práticas educativas que desconsideram a pluralidade de linguagens na infância, poderá trazer consequências nefastas para seu desenvolvimento, por exemplo, a negação ou desvalorização do tempo da infância e (re)produção de mais fracassos na escola, e, para os professores, a adoção de práticas formativas massificadas, produzidas e gerenciadas por especialistas, distantes do cotidiano dos sujeitos da escola.