NIENOW, Naiara dos Santos (2016)
A Construção da Imagem Social da Criança no Diálogo Com a Avaliação Nacional da Alfabetização
Mato Grosso, 2016. Tese de Doutorado (Pós-graduação em Educação)
Universidade Federal de Mato Grosso.
A Construção da Imagem Social da Criança no Diálogo Com a Avaliação Nacional da Alfabetização.
Nome do Orientador: Daniela Barros da Silva Freire Andrade
Área: Ciências Humanas: Educação
Assunto: Em Análise
Referencial Teórico: Em Análise
Natureza do Texto: Em Análise
Resumo: Este estudo tem o objetivo de compreender o modo como a escola configura a construção da imagem social da criança orientada pelo discurso sobre qualidade da educação em diálogo com a Avaliação Nacional da Alfabetização – ANA. O pressuposto que orienta esta investigação entende que as crianças são sujeitos ativos de direitos e a escola é um espaço privilegiado para firmar a visibilidade cívica da infância. No entanto, questiona-se que as avaliações padronizadas e em larga escala, como a ANA, têm produzido efeitos na vida das crianças e não apenas resultados. A base teórica e metodológica desta pesquisa é a teoria histórico-cultural (VIGOTSKI, 1996; 2006; 2009; 2010), a discussão sobre o processo de escolarização da criança segundo Gimeno Sacristán (2005), Paulo Freire (1987), Gauthier e Tardif (2010) e os estudos da infância situados no campo das Ciências Sociais que entendem a criança como agente, ator social e produtora de cultura (Qvortrup, 1994, 2000; James & Prout, 1997; Jenks, James & Prout, 1998; Prout, 2005; e Corsaro, 1997; Sarmento 2007). Para analisar a relação entre os contextos de formulação das políticas de qualidade da educação até a dimensão micro de uma escola, a pesquisa foi orientada pela abordagem do ciclo de políticas formulada por Ball e Bowe (1992; 1994), a relação entre visibilidade cívica das crianças e política a partir das proposições de Arendt (1968, 2009) Qvortrup (2010; 2014) e Sarmento (2007). O conceito de qualidade da educação seguiu as proposições de Dahlberg, Moss & Pense (1999), Bondioli (2004), Urban et al (2012) e Morgado (2005), Freitas (2005, 2014) e Oliveira (2009). Por tratar de um estudo que destaca as significações das crianças, optou-se pela metodologia do tipo etnográfico para aproximar das formas de comunicação de um grupo de crianças entre oito e nove anos de idade que participaram da ANA no final do ano letivo de 2014 e pertenciam à rede pública municipal de educação de Cuiabá-MT. Diante disso, o percurso metodológico envolveu a reflexão sobre a política internacional e nacional que orienta e conceitua a qualidade da educação a partir da análise de duas professoras especialistas, leitura de documentos oficiais e, bem como o discurso midiático que apresenta à sociedade, o ranqueamento das escolas associado ao discurso da qualidade educacional. Como resultado, a pesquisa identificou a coexistência de dois paradigmas que influenciam o sistema educacional: um reprodutor e outro de criação. O paradigma reprodutor possui força política e financeira tecida por territórios pautados na padronização, homogeneização e produção que contribui para o enraizamento da imagem social da criança como aluno obediente e disciplinado. Por outro lado, também está presente no cotidiano escolar outro paradigma, nomeado por essa pesquisa de criação e, apesar de sobreviver de iniciativas independentes do sistema hegemônico e fortemente ligado ao mundo acadêmico, o mesmo apresenta oposição à imagem de aluno, inscrevendo a criança escolar também como sujeito aprendiz, criadora, agente, ator social e produtora de cultura. Por fim, o estudo identificou que o efeito da ANA no contexto da prática contribui para o delineamento de dois núcleos de significação: um que é ancorado na imagem do aluno como bode expiatório e que culpabiliza a criança pelo fracasso nas avaliações, e o outro é a criança aprendiz que mostra a necessidade de criar uma avaliação sob outro paradigma, mais imersa na realidade e conduzida por uma postura antropológica.