RAMOS, Patricia Maria Guarnieri (2017)
A Concepção de Linguagem do Pnaic e Implicações Metodológicas Para o Ensino da Linguagem Escrita: Um Estudo a Partir da Psicologia Histórico-Cultural
São Paulo, 2017. Dissertação de Mestrado Acadêmico (Pós-graduação em Educação)
Universidade Metodista de Piracicaba.
A Concepção de Linguagem do Pnaic e Implicações Metodológicas Para o Ensino da Linguagem Escrita: Um Estudo a Partir da Psicologia Histórico-Cultural.
Nome do Orientador: Anna Maria Lunardi Padilha
Área: Ciências Humanas: Educação
Assunto: Em Análise
Referencial Teórico: Em Análise
Natureza do Texto: Em Análise
Resumo: A pesquisa de que resultou esta dissertação de mestrado tem como tema o ensino da linguagem escrita nas séries iniciais do Ensino Fundamental e, como problema, o processo de desmetodização desse ensino a partir da entrada da concepção construtivista como base para os documentos oficiais e políticas públicas para a alfabetização. Toma como objeto de estudo o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), programa criado pelo governo federal em 2012 em parceria com os estados e municípios com o objetivo declarado de formar professores alfabetizadores com a finalidade de atingir a meta de alfabetizar todos os alunos até o 3º ano do Ensino Fundamental. Como objetivo, analisa a concepção de desenvolvimento humano, de linguagem, de linguagem escrita e as implicações metodológicas presentes no caderno de apresentação e nos cadernos de formação de professores correspondentes ao 3º ano do Ensino Fundamental. Como método de investigação, assume o materialismo histórico e dialético de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) e os referenciais teórico-metodológicos da Psicologia Histórico-Cultural e da Pedagogia Histórico-Crítica, ambas com fundamentação na filosofia marxiana. Igualmente, apoia-se na obra de Maria do Rosário Mortatti, que estuda a história da alfabetização no Brasil e que propõe o enfrentamento das dificuldades por que passam as crianças e os professores no processo de alfabetização no Brasil. Nesses fundamentos, encontra-se a intersecção teórico-metodológica que aponta para a defesa da escola pública e o ensino de qualidade para a classe trabalhadora. A dissertação assume os conceitos da Psicologia de Vigotski, tais como o caráter histórico e social do desenvolvimento e o processo de ensino e de aprendizado como necessário e determinante para o desenvolvimento das funções psíquicas culturais. A linguagem é entendida como função psicológica superior, que age em interfuncionalidade com as demais funções: o pensamento, a atenção, a memória, a percepção e o raciocínio lógico, não servindo apenas à adaptação do indivíduo ao seu meio, como sugere Piaget. É instrumento de transformação do homem e de sua cultura. Transformação fundamental no princípio marxista: o homem transforma a natureza e dialeticamente se transforma. Como metodologia para a análise do PNAIC, utilizou-se a configuração textual, uma ferramenta desenvolvida por Mortatti (2000). Como resultado, a pesquisa identifica que o PNAIC mantém o construtivismo de Jean Piaget como base epistemológica para o ensino da linguagem escrita, assumindo o desenvolvimento humano como interação entre o sujeito e o meio e, inspirado fortemente no modelo biológico, considerando que sejam as estruturas cognitivas as que favorecem e possibilitam o aprendizado em níveis cada vez mais complexos. A linguagem é explicada como função de comunicação entre indivíduo e seu meio, estando ausente a noção de que ela é constitutiva do psiquismo e que contribui decisivamente para o desenvolvimento do pensamento humano em suas formas superiores. Assumo, portanto, que, para o ensino da linguagem escrita, faz-se necessária a definição do conteúdo e da forma com vistas aos destinatários; um caminho coerente com a visão de mundo e de práxis revolucionária. A contribuição deste estudo soma-se às análises de interlocutores que vêm, desde o final do século XX, denunciando a hegemonia da concepção construtivista e o quanto esta colabora com a manutenção do não ensino efetivo da linguagem escrita aos alunos da escola pública no Brasil.